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Na Coluna do LIV deste mês no Educador21, a gerente pedagógica Renata Ishida aponta os desafios mais comuns para a educação inclusiva

As características individuais são aquilo que nos tornam únicos. Com crianças e adolescentes, não é diferente. Cada um tem seus sonhos, hábitos, valores e comportamentos. Dentro de toda essa diversidade, há também pessoas com algum tipo de deficiência.  Muitas vezes, elas enfrentam desafios desde pequenas, sejam eles arquitetônicos, como escadas para quem necessita de cadeiras de rodas, ou a falta de instrumentos adequados à sua condição, como um engrossador de caneta, usado por pessoas que têm dificuldades motoras que atrapalham a preensão palmar. Isso sem falar no preconceito e no capacitismo.

A escola costuma ser um dos primeiros ambientes em que essas questões se evidenciam. Mas, não basta providenciar o crucial, como rampas, banheiros acessíveis e ferramentas específicas para as necessidades de cada aluno para tornar o ambiente inclusivo. A escola inclusiva vai muito além disso.

“Por inclusão escolar, entendemos quando a proposta pedagógica e o espaço são pensados e desenvolvidos para atender às demandas de todas as pessoas, independente das diferenças entre elas. A escola inclusiva oferece uma experiência e um ambiente de aprendizagem igualitários e participativos para todas as crianças”, diz Renata Ishida, gerente pedagógica do LIV.

Renata reforça que, ao contrário do que muita gente pensa, uma escola inclusiva não precisa ter como foco o ensino da tolerância, como se a intolerância fosse a postura esperada no encontro com o outro.

“Ela já teria como premissa o reconhecimento e a celebração da diversidade como algo rico e fundamental para o mundo, bem como o respeito mútuo. Quando uma criança é socializada com naturalidade em um espaço saudável de convivência entre pessoas com deficiência e sem deficiência, esse assunto tem muito mais chances de não se transformar em tabu, além de fomentar um mundo não capacitista’’, diz Renata.

Quais os desafios na prática?

Nos dias atuais, tanto a Constituição Federal quanto a Convenção Sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência garantem o direito de todos a uma educação inclusiva, na qual todos os estudantes compartilham o mesmo ambiente escolar.  Mas, na prática, nem sempre é isso que acontece.

“Para que haja uma inclusão efetiva, é importante que esses princípios já estejam fundamentados no PPP (Projeto Político Pedagógico) da escola. É o Projeto Pedagógico que orienta as atividades escolares, mostrando os interesses e intenções da equipe escolar. Baseada nele, a escola orienta e organiza o trabalho, garantindo apoio em todas as etapas de cada processo, planejando ações, possibilitando a existência de propostas curriculares diversificadas e com intencionalidade pedagógica”, afirma.

Renata cita alguns dos empecilhos mais comuns para que a escola se torne de fato inclusiva. Conheça alguns deles:

  • Acessibilidade atitudinal:

É um dos tipos de acessibilidade mais importantes que existem, pois diz respeito ao comportamento das pessoas, que é uma das principais barreiras de inclusão das pessoas com deficiência. A forma como olhamos, nos dirigimos, preparamos a aula, já diz sobre nossas impressões e preconceitos.

“A acessibilidade atitudinal é a oportunidade para superar o capacitismo, mudar nossas atitudes e desenvolver a escuta ativa, um início para que outras acessibilidades possam ser trabalhadas” opina Renata.

  • Acessibilidade arquitetônica

Caso mais lembrado e notório de acessibilidade, trata de barreiras físicas, que costumam ser bem visíveis e fáceis de identificar. Trata dos recursos que permitem a locomoção de pessoas em qualquer espaço com autonomia.

  • Acessibilidade metodológica

No caso das escolas, esse é o tipo de acessibilidade mais específica e que requer atenção. É preciso diversificar os métodos e técnicas usadas no ensino, a fim de atender todas as pessoas sem barreira alguma. É chamada também de acessibilidade pedagógica.

“Para isso, é preciso preparar e formar o corpo docente, bem como escolher materiais e recursos pedagógicos que sejam acessíveis” recomenda Renata.

  • Acessibilidade instrumental

O objetivo da acessibilidade instrumental é superar barreiras no uso de ferramentas e objetos necessários no desenvolvimento de atividades escolares, profissionais, recreação e até de lazer. É preciso investir em softwares de leitores de tela, quadros de comunicação aumentativa, engrossadores de pincéis, canetas e lápis, entre outros.

  • Acessibilidade comunicacional

Tem como princípio facilitar o entendimento para o maior número possível de alunos. Seja por fala, sinais ou expressões, não vivemos sem comunicação, não conseguimos nos relacionar enquanto indivíduos e sociedade. Intérprete de libras, assistentes virtuais, legendas são alguns dos métodos recomendados.

Inclusão beneficia a todos

Estudos recentes mostram os benefícios da inclusão não apenas para os estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e superdotação ou altas habilidades, mas para todos os demais. As práticas educativas pensadas a partir da perspectiva da inclusão de todos têm impacto positivo na aprendizagem em geral.

Nossa riqueza está justamente no fato de sermos todos diferentes, e o convívio com a diversidade beneficia a todos, ampliando nossa capacidade de percepção do mundo, exercitando a empatia e a comunicação e expandindo nossos conhecimentos e valores. Confira aqui um bate-papo sobre arte, educação e inclusão, com o artista plástico e professor de artes e arte-educação, Hélio Rodrigues!

Saiba como o LIV atua pela inclusão

O LIV tem uma série de materiais e projetos que ajudam as escolas a montar seus currículos e suas estruturas respeitando normas de inclusão. O primeiro passo conversado com as escolas é garantir que elas sejam um espaço seguro para a fala e a escuta dos seus participantes, premissa básica para um ambiente saudável.

Posteriormente, é trabalhado o desenvolvimento da inteligência emocional, que permite a percepção que todos têm vulnerabilidades, e o pensamento crítico, que ajuda a imaginar e construir uma sociedade mais respeitosa e livre de preconceitos.

O material do LIV inclui cadernos projetados com o mais alto nível de contraste, facilitando a leitura para quem tem baixa visão, séries audiovisuais com legenda para alunos com deficiência auditiva e também jogos colaborativos cujos personagens possuem algum tipo de necessidade específica, cuidando da representatividade para este público.

“Além disso, cuidamos para que os personagens (seja nas histórias da literatura infantil, seja nos jogos ou nas minisséries) sejam diversos, garantindo a representatividade de uma multiplicidade de pessoas. Quando as crianças entram em contato constante com a diversidade de pessoas não como um problema, mas como algo que faz parte da vida, aquilo vai sendo sua referência também”, destaca Renata.

Em GAIA, jogo colaborativo que faz parte da proposta pedagógica LIV para o 4° ano do Ensino Fundamental, os personagens são todos diferentes uns dos outros e possuem necessidades específicas também. Ao caírem na Terra, depois de uma longa viagem intergaláctica, todos sofreram algum tipo de mudança. Maré, por exemplo, começou a enxergar as cores de outra forma e precisou se concentrar nos sons para se localizar. Enquanto isso, Gab recorreu a um aparelho para ouvir e compreender a língua portuguesa depois que o seu tradutor sofreu uma interferência ao chegar à Terra. Gab, inclusive, aprendeu LIBRAS para se comunicar melhor, mas parece que poucas pessoas conhecem essa língua por aqui.

“Outro ponto importante é a diversidade de instrumentos e estratégias pedagógicas. Nem sempre uma estratégia será bem sucedida com todos os alunos. A música pode ser um recurso interessante para uns, enquanto o livro de histórias pode ser mais engajador para outros. No caso de crianças com autismo, temos recebido relatos de que a pelúcia dos personagens tem sido um instrumento pedagógico valioso e um grande mediador na comunicação dela com a turma”, afirma a psicóloga.

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