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Na coluna de fevereiro, Thiago Almeida aponta evidências do aumento no empreendedorismo educacional, impulsionado pela pandemia

A pandemia provocada pela Covid-19 trouxe inúmeros transtornos para escolas, universidades, e, principalmente, professores. Docentes tiveram que recriar suas aulas, cursos, disciplinas, práticas pedagógicas, modelos de avaliação, entre outros elementos do processo didático-pedagógico. Mas desafios de outras categorias também surgiram, como demissões, redução de carga-horária ou de projetos de extensão.

O conjunto de mudanças provocado pela Covid, desde as pedagógicas até as de redução de remuneração e receita, levaram professores a pensar novos projetos, muitos deles com características empreendedoras, como criação de jogos, aplicativos, metodologias, e até mesmo novas escolas.

Este fenômeno impulsionou o setor de empreendedorismo educacional no Brasil, porém trazendo em seu bojo uma novidade: desta vez os empreendedores não são profissionais de tecnologia, inovação, ou outras áreas, e sim educadores.

Empreendedorismo x Empreendedorismo Educacional

Empreender na educação é diferente de empreender em outros setores. Por duas razões:

  1. a primeira é técnica: educação envolve conhecimento técnico e científico, portanto qualquer inovação ou projeto tecnológico precisa de subsídios científicos para ter relevância
  2. a segunda é filosófica: a educação envolve construção de futuros e perspectivas para as próximas gerações, além de impactar a sociedade

Portanto, qualquer novo projeto não pode ser encarado somente um produto ou serviço; precisa ter clareza sobre sua contribuição para o todo. 

Empreender não é abrir uma empresa. O empreendedorismo é um fenômeno que envolve a identificação de uma oportunidade, a decisão de explorá-la, e o desenvolvimento desta exploração em formato organizacional.

A oportunidade empreendedora se caracteriza pela chance de resolver um problema novo na vida dos consumidores, através de novos produtos, serviços, processos ou tecnologias. Ou seja, a inovação está no cerne do conceituo de empreendedorismo.

É por isso que, conceitualmente, abrir uma empresa não é um ato empreendedor necessariamente. Se a nova empresa não traz ao mercado um produto, serviço ou processo inovador, ela não endereça novos problemas ou novas soluções. Trata-se apenas de atividade empresarial. É a diferença entre oportunidade empreendedora e oportunidade empresarial.

No caso do empreendedorismo educacional, trata-se da mesma questão: criar uma nova escola não necessariamente é um ato empreendedor. Mas se a escola apresentar inovações na aprendizagem, se aproxima de resolver problemas novos, e, portanto, de uma oportunidade empreendedora.

Empresário x Empreendedor x Empreendedor Educacional

O empresário é diferente do empreendedor, pois ele cria novos negócios que não precisam ter características inovadoras. Pode expandir seu modelo atual, ou mesmo apenas diversificar em mercados que ofereçam espaço de crescimento ou sinergia estratégica. Ou seja, não trazem nada novo ao mercado. E tudo bem, faz parte do processo.

Já o empreendedor, necessariamente está vivendo a jornada de criar e levar algo novo ao mercado, o que se configura num processo distinto do empresarial.

O empreendedor educacional está criando e levando ao mercado soluções no contexto educacional que resolvem problemas dos usuários, que podem ser professores, gestores, famílias e os próprios estudantes.

Qual o impacto de professores começarem a empreender?

Apesar do grande número de Edtechs brasileiras (Edtech é uma startup da área de educação), poucas cruzaram o abismo e se transformaram em empresas. Há quem justifique este resultado pelo fato de a maioria das edtechs não ser liderada por educadores ou professores, dotados do conhecimento técnico, científico e experiências, necessários para a construção de soluções educacionais.

Quando professores passam a atuar diretamente na criação de novos negócios educacionais, trazem suas experiências cotidianas para o primeiro plano do processo de desenvolvimento, aumentando (e muito) as chances de sucesso.

Mas existe também uma outra dimensão de impacto: comportamental.

Quando professores iniciam jornadas empreendedoras, passam a vivenciar um conjunto de experiências que irão influenciar suas vidas como um todo, no sentido de uma nova relação com o risco, ampliação da resiliência, tomada de decisões e postura de resolução de problemas.

Acredito que o impacto deste movimento irá muito além de novas empresas  educacionais, e terá potencial para redefinir as competências docentes e papel do professor. Não só nas instituições, mas na sociedade como um todo.

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