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O LIV convidou a especialista Clarissa Brito para responder a cinco perguntas sobre a escola antirracista, tema importante dentro e fora do ambiente da sala de aula

Você sabe o que significa ser antirracista? Para a psicopedagoga e educadora Clarissa Brito, trata-se de uma escolha consciente e deve ser incentivada em diferentes ambientes sociais. “Quando a gente fala da mentalidade antirracista na sociedade, estamos falando de qualquer ambiente que se posicione, que faça escolhas para que o imaginário social de racismo não seja perpetuado”, explica.
Professora e líder do Comitê de Representatividade Racial, criado pela Escola Eleva, do Rio de Janeiro, Clarissa é especialista em Educação Infantil pela PUCRio e consultora pedagógica do Oyá Educa.

Em entrevista exclusiva para o LIV, ela respondeu a cinco perguntas sobre o tema e explicou como as escolas podem buscar práticas pedagógicas de acordo com a Lei nº 10.639/2003. A lei inclui nas diretrizes e bases da educação nacional a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura afro-brasileira.

Confira a seguir o vídeo completo e um texto com os destaques dessa entrevista:

O que é um ambiente antirracista?

De acordo com a psicopedagoga Clarissa Brito, “o ambiente antirracista é qualquer espaço que, de alguma maneira, tem um comprometimento com aquilo que é contra uma violência simbólica ou epistêmica”.

Para ela, ser antirracista é uma escolha consciente, tanto individual quanto coletiva:

“Toda hora você vai parar e pensar nas intenções, nas escolhas que a gente vai fazer. […] Quando a gente fala da mentalidade antirracista na sociedade, estamos falando de qualquer ambiente que se posicione, que faça escolhas para que o imaginário social não seja perpetuado”.

Qual o papel da escola na promoção do antirracismo?

Para Clarissa, “pensar em um ambiente antirracista é rever as escolhas curriculares, as representações, os lugares de poder, quais são as narrativas que vão circular dentro desse ambiente”. Nesse sentido, ela destaca que “é preciso que a escola esteja sempre buscando representatividade, ancorada com as narrativas ancestrais negras”.

A educadora diz ainda que “é necessário que a escola esteja implicada fortemente em ressignificar o olhar que temos sobre esse continente originário que é a África”. Para ela, “a África é o nosso lugar mãe, onde toda a nossa vida começa. A gente precisa ressignificar o olhar sobre esse território e pensar nossa identidade nacional afro-brasileira”.

Outro ponto abordado por Clarissa é a escolha cuidadosa dos conteúdos que tratam da população negra nos conteúdos curriculares. “Eu gosto de pensar que a história negra não é a história do racismo. […] Nós sempre contamos o impacto do racismo, o que foi o racismo, mas nós deixamos de contar o que é a potência do viver e do pensar negro”, afirma.

Quais práticas ajudam a criar um novo imaginário social a respeito das narrativas, corpos e memória negra?

Quando questionada sobre as possibilidades didáticas antirracistas, Clarissa defende a importância de a escola explicitar para seus educadores e para o corpo discente que ela está engajada nesse movimento. “Quando isso está explícito para todos os corpos e mentalidades que estão na escola (professores, alunos, familiares), você começa a desmembrar esse fazer”.

Nesse sentido, ela questiona: “Você tem um olhar pedagógico, que vai pensar na escolha do simbólico que vai circular a escola, as imagens, os livros, o que eu trago de representatividade, como a imagem negra vai aparecer na escola. Será que a escola só vai levar um corpo negro para dialogar com os seus alunos quando ela estiver discutindo resistência e luta?”.

Como envolver os diversos atores das comunidades escolares nessa perspectiva?
Para além dos professores, Clarissa destaca a necessidade de incluir funcionários, alunos e seus familiares em uma nova cultura. “O primeiro movimento é fazer com que todas as pessoas que estão dentro de uma escola entendam que a escola é um campo de reconstrução”.

E destaca: “É importante que a escola veja o lugar que ela ocupa na sociedade e entenda seu papel. Não temos ainda uma receita, mas sabemos que tem uma violência que não dá mais para perpetuar […]. Eu preciso letrar as pessoas, é preciso que todas as pessoas na sociedade entendam o que é o lugar de fala, o que é branquitude, o que é privilégio […]”.

Como a Escola Eleva tem atuado para ampliar a representatividade?

Entendendo a urgência de buscar uma maior representatividade racial entre os membros de sua comunidade, a Escola Eleva, na qual Clarissa Brito atua, criou um Comitê de Responsabilidade, que vem gradativamente pensando medidas práticas nessa direção:
“É uma escola que vem pensando o futuro, em uma transformação social […]. A gente está em construção, mas o que temos certeza é de que essa é uma discussão viva na escola”, destaca.

No Comitê, conta a educadora, são realizadas reflexões sobre a formação da equipe, sobre os materiais didáticos e as práticas pedagógicas, sobre a parcela de professores negros nas salas de aula e sobre como a escola pode atuar para ter mais corpos negros vivendo essa experiência:

“Esse é o nosso fazer hoje: pensar e repensar, e entender que a mentalidade antirracista está em construção na sociedade e não podemos ficar de fora dessa discussão. Isso é uma demanda urgente para todos. Essa é uma discussão coletiva.”

Para Clarissa, embora a busca por representatividade já aconteça, ela acredita que esse é um trabalho contínuo. E completa: “A gente ainda não está onde acreditamos, onde desejamos, mas temos muito explícito o quanto estamos nesse caminho. A gente se revê e se repensa o tempo inteiro”.

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